Depois de ter acompanhado a trajetória à Casa Branca de Barack Obama, vi algumas entrevistas a respeito e uma delas me chamou muito a atenção. Tratava-se do nosso presidente Lula se comparando ao vencedor das eleições americanas – etnicamente falando – e incluindo no pacote outros presidentes populares. Na entrevista, Lula deixou transparecer sua óbvia preferência por Obama e, mais ainda, explicou o porquê da identificação: o candidato eleito, assim como ele, foi eleito por refletir um desejo de mudança da nação.
É fato que todos temos a necessidade de nos espelhar em alguém. O povo brasileiro, mais especificamente, precisa criar diariamente seus heróis para que a vida amarga e cruel tenha um pouco mais de sentido. Uma semana antes do final das eleições americanas, o Brasil inteiro acompanhou o caso de Eloá. O desfecho da história não foi o esperado, mas agora o país possui duas novas heroínas: Eloá, que teve seus órgãos doados pela família, e Nayara, que voltou ao cativeiro para icar com sua amiga. A primeira teve sua atitude espelhada por várias outras famílias; já a segunda reflete o desejo de fidelidade e companheirismo que as pessoas tanto sonham (te dou um Damon e Pythias?). Nayara hoje sofre, sente a dor da perda e, mais uma vez, o Brasil começa a se esquecer de mais um trágico episódio e aguarda ansiosamente pelo seu mais novo herói. E a vida segue seu curso.
Ser herói é isso? É ter que morrer, ter que provar amizade, ter que sofrer pelo “bem maior”? Há quase dez anos venho construindo meus heróis dentro e fora de nossa Ordem e posso afirmar que todos eles o são por atitudes bem mais nobres do que estas.
Tem o herói que veio dizer “oi” no dia da minha iniciação. Até capa ele usava! Tinha o colar e o malhete da autoridade e, mesmo assim, sabia precisamente o peso que eles tinham. Enfrentou alguns vilões, quase foi derrotado e, numa atitude heróica, deixou-se ser sacrificado pelo bem maior: foi levar uma vida normal e esqueceu de todo o seu passado. Menos de mim: conheceu a mocinha da história, casou-se, me convidou para o casamento e hoje vivem super felizes sem nem se lembrarem das tristezas de ser um herói.
Há também o herói que era Mestre Conselheiro, fazia duas faculdades, trabalhava e ainda conseguia ser o melhor amigo/irmão que qualquer um de nós poderia sonhar em ter. Este herói tinha o poder de persuasão extremamente evidente, mas sabia que grandes poderes traziam também grandes responsabilidades. Encontrou um vilão cruel em seu caminho e, infelizmente, não sobreviveu à batalha. Mas, no final das contas, acabou vencendo o mal e plantou em cada um de seus amigos a semente da união eterna: onde quer que estivessem, ele os conectaria.
E o que dizer daquele herói que sempre foi amigo de todo mundo, sempre ajudou e sempre passou por cima de si mesmo por quem quer que fosse? Ninguém esperava que ele fosse um herói – achavam, na verdade, que ele não passava de alguém gentil. Mas um dia o vilão o encontrou, depois de longos anos, e rendeu todos os seus amigos. Foi aí que ele revelou sua identidade secreta: enfrentou o bandido, salvou a todos e, juntos, foram comemorar na beira da praia.
Heróis se fazem de sentimentos bons que se exprimem em boas ações. Não pedem holofotes, não desejam a fama, não esperam méritos por seus feitos. Apenas fazem aquilo que sabem ser necessário – e o fazem muito bem. Heróis são muito mais que capas, colares, malhetes ou cargos: são seres humanos, como nós, que tentam diariamente disseminar o que há de melhor neles para o resto do mundo. Mesmo que para isso precisem se sacrificar às vezes.
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O Cortês venera seus heróis como quem admira o melhor amigo por ver nele tudo aquilo que realmente gostaria de ser.
11 novembro, 2008
Categorias: O Cortês . Tags:Atitude, bom exemplo, demolay, heróis, idolatria, sacrifício . Autor: O Cortês . Comments: 7 Comentários